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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: Documentário "Temporada de caça" (1988), Rita Moreira

"Temporada de caça", de Rita Moreira, é um documentário simples: como constata logo no início do produto, foi inteiro gravado e editado em VHS. O vídeo é basicamente composto por um povo-fala, onde pessoas respondem perguntas acerca da grande perseguição a LGBTs na época em que a obra foi concebida, intercalando essas imagens com trechos de cenas contendo homossexuais em outras películas audiovisuais, e também com trechos das poucas notícias que tratavam dessa perseguição.


Ativista lésbica da década de 80, Rita Moreira retratou a dimensão de como o ódio e o preconceito contra a população LGBT na época da redemocratização brasileira era tão constante - e o pior, tão comum. O documentário critica o silêncio dos meios de comunicação quanto ao assunto, que era pouco divulgado e discutido, assim reforçando ainda mais como a perseguição podia se demonstrar uma verdadeira caça, que inclusive é uma metáfora que Rita usa no meio do documentário, colocando imagens de um caçador matando um veado, termo usado pejorativamente até os dias de hoje para se referir a pessoas gays.


Apesar da grande denúncia da sociedade LGBTfóbica no Brasil na década de 80, em contraste, vemos discursos de grandes influências brasileiras que são pró-diversidade. Nomes como Gilberto Gil, Ester Goes e a ativista e escritora transexual Cláudia Wonder expressam sua solidariedade à comunidade LGBT em meio a tantos discursos de ódio. Algo que era muito comum na época era a associação da epidemia da Aids, que começou na própria década de 80, com os gays. Isso foi extremamente prejudicial ao movimento LGBT, que começou a perder forças diante do fim da ditadura militar. O documentário explana o preconceito generalizado com pessoas justificando seu ódio pelos homossexuais a partir de um estereótipo pré-definido pelo vírus HIV.


No fim das contas, "Temporada de Caça" ganhou mais de 12 prêmios, tanto nacionais quando internacionais, e só nos mostra como o preconceito em forma de perseguição aos homossexuais em São Paulo foi uma realidade que não está tão distante da nossa nos dias de hoje. Apesar de atualmente estarmos no meio de uma geração mais tolerante e aberta a qualquer tipo de manifestação de amor, ainda existem severas perseguições e casos de violência e assassinatos causados pela LGBTfobia. Muitos desses preconceitos são mascarados como "expressão de opinião", "questão de gosto", e até mesmo piadas homofóbicas, mas muitas vezes as pessoas esquecem que a linha entre a manifestação de um ponto de vista e a intolerância pode ser mais tênue do que parece. Rita Moreira denunciou o ódio generalizado da década de 80, mas podia muito bem ter feito a mesma coisa nos dias atuais. É uma luta que não terminou ainda.


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