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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: Documentário "As vítimas da ditadura - Depoimentos"

"Se os torturadores tinham razão de alguma coisa, é dizer que a marca de tortura não passa. não passa." É com essa frase que Rose Nogueira se emociona ao dar o seu depoimento, o quinto do documentário As vítimas da ditadura - depoimentos. O vídeo, que é uma reunião de seis depoimentos recolhidos pelos realizadores da novela Amor & Revolução, do SBT, é curto e simples, esteticamente falando: são 24 minutos, apenas mostrando as personagens que foram algumas das sobreviventes das torturas realizadas na época da ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985.


Ao iniciar o documentário, um texto em fundo preto contextualiza o golpe militar e o começo dos longos 21 anos ditatoriais. Também vemos fotos de diferentes movimentos e protestos, com pichações de "ABAIXO À DITADURA", em letras maiúsculas e representando quase que um grito generalizado da população. Em seguida, somos apresentados a Criméia Almeida, uma senhora que estava grávida quando foi capturada. Ela conta que havia um acompanhamento médico enquanto os militares decidiam quais torturas seriam aplicadas a ela, onde o doutor falava o que era ou não recomendado. Seu filho, que nasceu posteriormente na cela, tinha soluços em sua barriga, e tem até hoje, com 37 anos de idade.


A segunda entrevistada, Maria Amélia Teles, conta sobre os vários choques por diversas partes do corpo que ela levava diariamente. Seus filhos foram figuras que fizeram parte de sua tortura, pois eles eram obrigados a assisti-la nas situações mais horríveis - sempre muito fraca e machucada. É impossível não sentir a aflição e a dor na voz de Maria só nesse momento em que ela conta todas as atrocidades feitas não só com ela, mas com tantas pessoas. "Não se consolida uma democracia com cadáveres em sepulto. E nós temos muitos", ela finaliza o seu depoimento.


Jarbas Marques, o terceiro entrevistado, dá o seu depoimento com indignação transbordando de seus olhos. Seu corpo era usado como se fosse um boneco, e nele eram feitas as demonstrações de tortura. Basicamente, um teste para ver o que causava mais medo, dor e inquietação nas vítimas. E isso não era só com ele - outro homem que estava no mesmo 'grupo', foi tão explorado que acabou ficando louco, literalmente.


A emoção de Ilda Martins, a quarta pessoa a dar seu depoimento, é devido à maternidade. Ela pensava que nunca mais veria os seus filhos, e isso, para ela, seria a pior de todas as torturas. No meio do relato, um de seus filhos também aparece para contar os seus sentimentos, assim fazendo com que os dois se emocionassem, e causando comoção, também, no espectador.


Rose Nogueira, penúltima entrevistada e mencionada na introdução desta crítica, foi presa 33 dias após o nascimento de seu filho. Aos 23 anos na época, ela sofreu tantas torturas e violências que nunca mais pôde ter filhos. Além disso, sua memória é uma das piores: diversos abusos sexuais que eram cometidos todos os dias enquanto ela esteve presa.


Por fim, Ivan Seixas, fazia parte de grupos militantes e da guerrilha operária, que conseguiu salvar cerca de 200 pessoas das torturas. Ivan é uma figura que se orgulha e não possui arrependimentos de nenhuma das suas ações, e encerra o documentário nos lembrando que a luta nem sempre precisa ser legitimada pelo lado opressor - ela só precisa salvar quem precisa ser salvo.



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