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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: "As bichas e a ditadura militar"

As bichas e a ditadura militar não foi publicado por acaso no dia 01 de abril de 2014, semana em que o golpe de 1964 completou 50 anos. Propositalmente, Marcelo Hailer destaca logo no início de seu documento o marco, relembrando da luta de muitos que acabaram por desaparecer ou passaram por torturas. Pessoas LGBT eram alvos constantes de violência, repressão e censura durante os 21 anos da ditadura militar no Brasil. Com isso, diferentes grupos militantes emergiram por meio das artes, dos movimentos sociais e estudantis - principalmente de universidades -, assim como a imprensa que pretendia romper com a censura imposta na época. Assim, nasce, então, um símbolo de resistência de uma minoria que, na verdade, não era tão minoria assim.


Hailer destaca um dos maiores exemplos da militância LGBT da época: o jornal em formato tabloide "O Lampião de Esquina", fundado por João Silvério Trevisan, Darcy Penteado, Aguinaldo Silva, Peter Fry e João Antônio Mascarenhas, que causou grande polêmica durante seus apenas 3 anos de existência (1978 - 1981) por fazer uso de palavras como “bicha” e colocar como capa figuras como Fernando Gabeira e Lula. As bancas passaram a se recusar a vender o jornal por ferir o que era o considerado moralismo da época. No entanto, o jornal foi importante alavanca para o ativismo LGBT ganhar mais visibilidade: João Silvério Trevisan, um dos fundadores do jornal, organizou o primeiro grupo de ativismo social gay, o Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, primeiro grupo de ação política que tratava sobre o gay no espaço público e com intervenção social.


De acordo com Trevisan, o que desencadeou no nascimento do movimento homossexual, hoje LGBT, foi um debate que aconteceu na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP), em 8 de fevereiro de 1979. O local estava repleto de jovens militantes da esquerda universitária, mas contava também com um número considerável de bichas e lésbicas. Após um debate intenso, viu-se que era hora de os LGBTs se mobilizarem para ganhar voz em um movimento que era considerado pelos jovens comunistas de "coisa de quem não tinha o que fazer”. Assim, essa ascensão do grupo Somos foi essencial para a criação de diversas outras organizações em várias regiões do território nacional brasileiro.


Voltando às artes como forma de protesto à censura e repressão, Marcelo Hailer destaca um grupo que foi motivo de febre e furiosidade: o grupo de teatro Dzi Croquettes, que rompe com a barreira binária de gênero nos teatros de São Paulo e do Rio de Janeiro, cujos integrantes não se definiam nem como homem, nem como mulher. A influência foi tão grande que, em plena ditadura militar, haviam homens circulando nas ruas de salto alto, calça justa e maquiagem. Por outro lado, não se depilavam, e mantinham os traços considerados masculinos.


Em um âmbito geral, a coragem dos grupos militantes LGBTs foi uma verdadeira inspiração para não apenas a população que viveu a ditadura militar, mas para quem vive nos dias de hoje também. A perseguição e a violência persistem, e apesar da maior tolerância por parte da geração atual que é considerada mais liberal e compreensível, ainda há muito pelo que lutar - e com certeza a luta dos LGBTs na ditadura militar serve de grande reflexo para a dos dias atuais.


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