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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: "Depressão, temporalidade, sintoma social”, Maria Rita Kehl

No livro aonde a introdução "Depressão, temporalidade, sintoma social” se insere, "O Tempo e o Cão" aborda a considerada 'doença do século': a depressão. Como o próprio título da introdução sugere, a depressão é um sintoma social produzido pela contemporaneidade, e espalhou-se como se fosse viral. Maria Rita Kehl concebeu a obra relacionando a depressão com o tempo a partir do atropelamento de um cão na Via Dutra, mas sempre estabelecendo as claras diferenças entre a depressão e a melancolia, mesmo que as características dos dois sejam no mínimo parecidas.


A introdução "Depressão, temporalidade, sintoma social” é um processo de leitura fundamental para entender-se do que o resto da obra irá tratar. Ao falar sobre o sintoma e os traumas sociais, Kehl relata sua participação em um debate sobre mulheres torturadas na ditadura militar, onde diz: "[...] pude observar que o ato de tornar públicos os sofrimentos e os agravos infligidos ao corpo (privado) de cada uma daquelas mulheres poderia pôr fim à impossibilidade de esquecer o trauma." Kehl utiliza os conhecimentos adquiridos no debate para discorrer, na introdução, que a passagem para a modernidade foi uma época em que a 'feminilidade' estava sendo explorada de diferentes formas, desde o acesso ao espaço público até novos modos de desfrutar da sexualidade, assim expondo também o conflito entre papéis domésticos e papéis profissionais e públicos, entre outros.


É evidente que muitos dos cidadãos brasileiros ainda possuem certas sequelas da época do regime militar. Até hoje, muitos preconceitos perduram e são resultado de estereótipos já enraizados, e intensificados em um período em que fugir dos padrões da 'boa conduta' era considerada uma ameaça. Assim, "Depressão, temporalidade, sintoma social” nos ajuda a compreender como os traumas sociais que desencadeiam na depressão podem, muitas vezes, serem reflexos de momentos sombrios vividos em conjunto. A violência social não está longe de ser extinta, ainda mais contra a comunidade LGBT, visto que ainda existem muitos casos de agressões e assassinatos por motivo de homofobia.


A introdução de Maria Rita Kehl é uma leitura imprescindível para que a reflexão e lembrança desses tipos de acontecimentos podem continuar perdurando até hoje. Ela usa a ditadura militar como exemplo de tempos sombrios cujas atrocidades cometidas já deveriam ter sido superadas há muito tempo. Durante a leitura, a pergunta que queremos que seja respondida é: "como é que uma sociedade como essa começa a apresentar como sintoma a depressão?" É possível afirmar que Kehl a responde com base em muitos estudos e reflexões.


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