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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: MATO GROSSO (1982) - DISCO DE NEY MATOGROSSO

Atualizado: 30 de abr. de 2019



Sucessor do álbum auto-intitulado Ney Matogrosso (1981), Mato Grosso chegou numa época em que ser diferente, autêntico e transgressor era proibido. Ney de Souza Pereira, que criou o nome artístico Ney Matogrosso - em homenagem à sua terra natal -, apresenta um disco com nove músicas de ritmos diversos e com misturas que o caracteriza como um arbítrio pop.


A capa do disco já é um primeiro enunciado da proposta do artista para sua obra; nela, vemos Ney em um ambiente natural, remetendo a um pântano, assim refletindo sua vontade de expressar liberdade plena, dos prazeres. É uma emancipação do urbano que o fez artista e um contato com suas origens - desde o semi-nu até a natureza que se insere.


Sendo este o seu oitavo álbum solo de estúdio, Mato Grosso investiga o corpo como reflexão da própria arte. As músicas trazem questões cotidianas que celebram o brasileiro por sua essência, e não pelo que lhes foi imposto no período do regime militar, que ainda estava em vigor na época de lançamento. Alegria Carnaval, canção que abre o disco, possui um toque de samba que não podia faltar, narrando uma vontade de esquecer problemas amorosos para viver a alegria do carnaval como um novo começo.



A segunda faixa Uai Uai, composta pela cantora que também faz participação na música ao lado de Ney, Rita Lee, é toda concebida a partir de um sotaque interiorano, sendo uma gozação das ações de um caipira dentro de um ambiente urbano. Tendo uma similaridade com os mandos e desmandos da ditadura militar, a canção foi proibida de ser executada publicamente.


Outra música que causou polêmica na época foi Jonny Pirou (Johnny Be Good), cuja execução pública foi proibida por fazer uma alusão a um homem americano bem sucedido, que vai a um jogo de futebol, onde acaba tendo uma relação homoafetiva com outro homem, negro. Assim, a censura entende por ela que Ney queria divulgar o completo oposto dos considerados bons costumes: uma relação inter-racial, entre dois homens. Em um contexto político onde a demonstração homoafetiva entre brancos já não era bem-vista, ao envolver o tema do racismo, Ney promove uma dupla crítica a sociedade. Essa manifestação foi interpretado como o auge da ousadia.


Apesar das eleições diretas para governador de 1982 terem sido o primeiro passo para a redemocratização do Brasil, a censura ainda era muito branda, assim reconhecendo o disco Mato Grosso como uma ameaça ao sistema que estava em vigor há 18 anos. Ney Matogrosso tinha sua expressividade não apenas na fala em si, mas no corpo, no figurino erotizante e provocativo e, é claro, nas suas letras, sempre sensoriais e carnais. Com isso, é seguro dizer que o disco Mato Grosso é uma plena celebração à carne e ao espírito latino; um manifesto necessário para resgatar a verdadeira essência do que é ser brasileiro e do que é ser humano.





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