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  • Daniela Boyadjian

CRÍTICA: FILME "A MEMÓRIA QUE ME CONTAM"

Dirigido por Lúcia Murat e tratando-se de uma história pessoal dela, "A Memória que Me Contam" retrata a reunião de um grupo de resistentes à ditadura militar e seus filhos, enfrentando o choque entre os dias atuais e os do passado quando um deles está à beira da morte: Ana, uma homenagem à ex-guerrilheira Vera Sílvia Magalhães, que participou junto a Murat de uma das guerrilhas na época da ditadura militar. Simone Spoladore é essa Ana, a guerrilheira entregue que participou do sequestro do embaixador norte-americano no Brasil em 1969, assim se tornando um símbolo para a esquerda. A personagem move a narrativa ao entrar em coma devido a sérios problemas de saúde, assim reunindo o grupo de pessoas.


"A Memória que Me Contam" não é um filme sobre a ditadura, mas sim sobre os sentimentos de quem a viveu e lutou contra. O longa trabalha com dois núcleos diferentes, com vários personagens: o primeiro núcleo representa a geração dos anos 60, onde temos a cineasta Irene (Irene Ravache); o preso político italiano Paolo (Franco Nero); o casal de artistas Zezé (Clarisse Abujamra) e Henrique (Hamilton Vaz Pereira); o Ministro da Justiça José Carlos Almeida (Zécarlos Machado) e Ricardo (Otávio Augusto), ex-militante conservador. A outra geração apresenta o filho de Irene, Eduardo (Miguel Thiré), seu namorado Gabriel (Patrick Sampaio), e Chloe (Naruna Kaplan de Macedo), sobrinha de Ana.


Eduardo é a representação da geração egocêntrica, politicamente despreocupada e acomodada. O destaque deste parágrafo vai para ele e o namorado Gabriel, que vivem um romance que não era tão bem-visto, devido aos preconceitos que ainda eram resquícios do regime ditatorial, e até de muito antes. As duas personagens não possuem tanta relevância quando mostradas sozinhas em cena, mas contribuem para mostrar a dificuldade da geração dos anos 60 de lidar com o tema da homossexualidade. Lucia Murat tentou passar veracidade, mas em muitos momentos vemos personagens caricatas, que não fazem jus ao movimento LGBT.


Do ponto de vista técnico, "A Memória que Me Contam" satisfaz muito na mixagem de som, que muitas vezes traz sussurros do passado ecoando nos atos presentes, e pela montagem que mostra a interação da jovem Ana com seus companheiros agora envelhecidos com maestria. A narrativa em si, no entanto, tinha como papel emocionar, e gerar o mínimo de empatia entre a plateia e as personagens com seus conflitos internos e externos, com suas memórias do passado obscuro e a trajetória que vivem no contexto em que se inserem. No entanto, essa expectativa é quebrada friamente. Algumas passagens foram arrepiantes, porém outras, sem foco, acabaram por sendo facilmente esquecidas numa memória que deveria servir para continuar viva.

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